BIOGRAFIA DE JOÃO PESSOA


JOÃO PESSOA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE nasceu na cidade de Umbuzeiro, Estado da Paraíba, em 24 de janeiro de 1878. Era sobrinho de Epitácio Pessoa, que chegou à Presidência da República na década de 20.

João Pessoa iniciou seus estudos no Liceu Paraibano, em João Pessoa (PB), tendo assentado praça em 1894 no 27º Batalhão de Infantaria, aquartelado na Paraíba, seguindo depois para o Sul do País. Ingressou, mais tarde, na Escola Militar do Rio de Janeiro, onde foi, posteriormente, desligado por haver sido acusado de tomar parte em um movimento revolucionário. Desterrado pra Belém do Pará, foi incluído no 4º Batalhão de Artilharia de Posição, como soldado raso, sendo, em 7 de abril de 1895, excluído por incapacidade física.

Em 1899 foi nomeado amanuense da Faculdade de Direito do Recife, onde concluiu o curso jurídico, colando grau como Bacharel em Direito no dia 19 de dezembro de 1903.

Exerceu sucessivamente as funções de professor da Escola Normal Pinto Junior e de Delegado do Ensino do distrito de Graça, em Recife.

Exerceu a advocacia até 1910. Emigrando para o sul, foi logo nomeado representante da Fazenda, nos processos de desapropriação para execução de melhoramentos dos portos. A 29 de dezembro de 1910. após aprovação em concurso público para a Justiça Mlitar, é nomeado Auditor da Marinha, em 1918, promovido a Auditor Geral, e, dois anos depois, com a reforma da Justiça Militar, foi aproveitado nas altas funções de Ministro do Supremo Tribunal Militar.

Eleito a 22 de junho de 1928 presidente do Estado da Paraíba, foi empossado quatro meses depois. Era chefe do Partido Republicano local.

João Pessoa era o que se pode chamar de um homem fora de série. Chegando à Paraíba e tomando o já então escritor José Américo de Almeida como seu braço direito, passou a governá-la com métodos que começaram a escandalizar os mais conservadores e politiqueiros. Detestava os medalhões e os cobria de ridículo, nas conversas que mantinha com os mais achegados.

Combateu a sonegação de impostos, a malversação dos dinheiros públicos e lutou tenazmente visando pôr cobro a déficit que encontrou no pagamento do Estado, contando com a inestimável ajuda de José Américo, secretário e confidente.

(Mais detalhes sobre seu governo na seção Governo de João Pessoa)

Sobrevindo a luta da sucessão presidencial do Presidente da República, Dr. Washington Luiz, foi o seu nome indicado pela Aliança Liberal, candidato à Vice-Presidência da República, quando a morte o colheu em circunstâncias dolorosas na cidade do Recife.

(excertos do livro "João Pessoa Perante a História", do historiador paraibano José Octavio)

AUTOBIOGRAFIA DE JOÃO PESSOA

Auto biografia de João Pessoa, narrada aos participantes da caravana de propaganda pela Aliança Liberal, na ocasião do banquete que lhe foi oferecido a bordo do Orania, atracado no Recife, em 24 de janeiro de 1930.

"Essa singela narrativa feita aqui, neste ambiente íntimo, servirá de exemplo aos moços, de incentivo aos homens de meia idade e de registro aos que já a ultrapassaram.

"Tinha oito irmãos e, na qualidade de mais velho, quando desaparecesse o progenitor, cabia-lhe, como única herança, orientar a família. Torturado pela necessidade, um dia foi obrigado a abandonar a casa paterna. Após incansáveis esforços, inenarráveis padecimentos, conseguiu, tempo depois, ingressar num estabelecimento militar da República. Sem qualquer adjutório, sem, ao menos, uma pequena mesada, as suas necessidades, se não eram maiores, eram; em todo caso, prementes. Inúmeras vezes não tinha 200 réis no bolso para ir à cidade em visita a um parente, que muito estimava, o qual, mais tarde, quando teve o poder nas mãos, grandemente o auxiliou.

"Um dia, porém, em virtude de um movimento perturbador da ordem militar, a escola foi fechada. Todos os alunos expulsos a bem da moralidade administrativa. Voltou à casa paterna. Lá, as vicissitudes ainda mais aumentaram, e quis partir para o norte. Nesse entrementes, regressa à Escola anistiado e, dois anos depois, é novamente afastado do estabelecimento de ensino, em conseqüência de um novo movimento revolucionário. Foi então deportado. Percorreu as costas do Brasil a bordo do Carlos Gomes, que levou 45 dias do Rio de Janeiro ao Pará. Tinha por leito o tombadilho do navio. Não tinha sido permitido conduzir a bagagem. Era obrigado a fazer das botinas, enquanto existiram, o seu travesseiro. (Pelo visto lhe roubaram as botinas. enquanto dormia).

"Chegando ao Pará, as dificuldades da vida se lhe tornaram maiores, sendo que a estremecida mãe jamais deveria ter conhecimento da situação miserável em que o filho se encontrava. Passava fome, dormia nos jardins e, afinal, quando a fome era mais cruenta, tinha hospitalidade no coração de uma generosa preta, que lhe dava um pouco do que fazia para vender, à porta de sua pobre casinha. Essa preta o acolheu com verdadeiro amor maternal, compreendendo que tinha fome, dividia carinhosamente com ele um pouco do seu alimento, adquirido com o produto de suas vendagens. Assim, dias e meses se passaram.

"Foi forçado a abandonar a vida militar, empregando-se no comércio em uma casa de estivas. Logo no primeiro mês adoeceu, sendo recolhido a um hospital, onde ficou abandonado e à morte. A família, tendo ciência do que lhe sucedia, resolveu telegrafar à casa comercial, pedindo que pagasse as despesas do seu ex-empregado até o seu Estado. Regressou a bordo de um navio do Lloyd, trancado em um camarote. Chegando ao porto do destino, mãos carinhosas arrancaram o infeliz, já desalentado, de dentro do beliche. Levado à casa, ainda sofreu mais de seis meses e, restabelecido pretendia voltar novamente para a Amazônia, a fim de cuidar de vida nova, quando a boa sorte lhe bate à porta.

"Fora nomeado pelo parente já referido para exercer uma função pública na Faculdade de Direito do Recife. Aí matriculou-se formando-se mais tarde. Veio a fortuna. Quando esta lhe sorriu, não olvidou a preta que o socorrera na desgraça, mitigando-lhe a fome. Infelizmente, não mais a encontrou. Continua, entretanto, guardando dessa pobre velhinha a mais viva lembrança, como sinal de imorredoura gratidão.

"Quereis saber de quem se trata? o humilde candidato à vice-presidência da República, que nesta hora vos fala".

(João Pessoa, edição do Governo da Paraíba, julho de 1930, p. 53).