18 de abril de 2006 - 11:35

João Pessoa deu as costas para o oceano


Portugueses a fundaram, em 1585, perto da foz do Rio Paraíba e foi ali que ela cresceu durante quase 400 anos

Ana Carolina Sacoman

 

JOÃO PESSOA - A barreira de corais na frente de praticamente todos os 25 quilômetros de litoral de João Pessoa levou a uma curiosa forma de colonização: durante quase quatro séculos a cidade cresceu e se desenvolveu "de costas para o mar". É que os portugueses que lá chegaram, em 1585, não conseguiram aportar pelo oceano.

Descobriram, então, a foz do Rio Paraíba e resolveram fundar a cidade por ali mesmo. Tudo, a partir de então, se desenvolveu em função do rio. Somente nos anos 1970 as construtoras começaram a desbravar os caminhos do mar e a urbanizar essa parte da capital, antes região de acampamentos, de difícil acesso.

Só por essa história já vale o passeio pelo centro histórico de João Pessoa. Comece, então, pelo melhor: o conjunto barroco formado pelo Convento de Santo Antônio, pela Igreja de São Francisco e por seu impressionante cruzeiro. Antigo convento de franciscanos, o complexo religioso começou a ser construído em 1589 e levou praticamente 200 anos para ficar pronto.

Lá dentro há um belo acervo de arte sacra dos séculos 18 e 19. A maioria das peças foi esculpida em madeira policromada. Preste atenção à imagem de Nossa Senhora do Rosário, do século 17. A obra foi encontrada durante a restauração do prédio - que ficou fechado entre 1979 e 1990. Os ingressos custam R$ 3, com direito a tour guiado.

A história da igreja, atualmente tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), é contada pelo caminho, nas peças de pedra calcária encontradas durante a restauração e expostas aos visitantes. Para abreviar: construída pelos franciscanos, foi quase destruída durante a invasão holandesa (1634-1654), cujo exército usou o lugar como forte.

De volta à congregação, foi ampliada e, por isso, cômodos como a capela dourada, a casa de oração, o claustro e a sacristia datam do século 18. Fechada por mais de uma década, hoje abriga o Centro Cultural São Francisco.

Há, ainda, um museu de arte popular, que guarda mais de mil peças em seu acervo, com obras representativas de todas as regiões do País. O complexo fica na Praça São Francisco, s/n.°; (0--83) 3218-4505. Funciona de terça-feira a domingo, das 9 às 12 horas e das 14 às 17 horas. Anote na agenda: vale a pena visitá-lo.

Primeiros passos

Talvez seja impossível entender as idiossincrasias locais sem uma parada na Praça Anthenor Navarro, coração do centro histórico. Lá está a maior parte dos prédios restaurados da cidade - trabalho feito por jovens carentes com recursos de uma parceira entre o Estado e o governo espanhol. A recuperação começou nos anos 80, quando a área estava totalmente degradada.

Repare no primeiro prédio restaurado, do Hotel Globo, o precursor da cidade, atualmente sede do Consulado da Espanha. Datado de 1929, o lugar serviu de palco para grandes discussões da época, até a década de 50, quando parou de funcionar. Hoje, é, assim como toda praça, tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural do Estado.

A poucos passos do hotel, a Igreja São Frei Pedro Gonçalves, do fim do século 19, igualmente abandonada e fechada, ganhou uma bela repaginada e reabriu em 2002. Durante a restauração, foram encontrados vestígios de uma capela, possivelmente do século 17, expostos dentro da igreja.

Um simples giro pela região, porém, deixa evidente que ainda falta muito a ser feito. Na área conhecida como Porto Capim, onde tudo começou, muitos prédios históricos sofrem com a ação do tempo e acabaram virando alvo de ocupações irregulares. Os primeiros e longos passos, no entanto, já foram dados...

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